A casa
"Quando criança eu tinha medo
De pessoas como nós"*
Que cortavam os próprios dedos
E tinham as línguas amarradas em nós,
Que viviam na casa
Rodeada por um muro de espelhos,
Cheia de vidros na faxada
E decorada com fios de cabelo,
Com janelas pintadas de amarelo
E paciência que escorriam
Pela moldura e pelos enfeites do 'castelo',
Ossos branco-leite, que tremiam.
A porta tinha pregos
Que prendiam na madeira
A música captada pelos espelhos
E o encosto de uma cadeira.
Produtos químicos espalhados
Pelo chão de toda mansão
Eram os únicos tipos de alimentos encontrados
No palco feito de restos de caixão
Ao qual a casa metaforizou-se.
A rede elétrica crescia na parede,
A casa engravidava-se,
Paria e emprenhava-se sempre.
Tinha todas as portas trancadas,
Exceto duas que estavam sempre abertas.
A porta de entrada da casa
E a do quarto onde se guardavam as armas.
No andar de cima, os suicídios
Eram emoldurados e pendurados
E o sangue dos assassínios
Era usado para pintar o chão furado.
O lugar perfeito para quem sonha morrer.
Todos os cantos eram pontudos
E na escada, com apoio para a mão correr,
Havia lâminas e ferros enferrujados.
E no jardim, pessoas, "uns brincando de viver"**
E todos vivendo sem sorrir,
Nenhum tenta correr,
Dali ninguém quer fugir.
E quando o dia amanhece,
Em meio ao cheiro de formol,
Toda a casa e as pessoas desaparecem
Exceto o filho do Sol
Em sua imortal desgraça, esquece
Que o veneno só o adormece
Até ser usada a próxima clave de sol.
*Música: Quarto das Armas
Banda: Pública
**Música: Como num filme sem um fim
Banda: Pública
Outubro de 2009
De pessoas como nós"*
Que cortavam os próprios dedos
E tinham as línguas amarradas em nós,
Que viviam na casa
Rodeada por um muro de espelhos,
Cheia de vidros na faxada
E decorada com fios de cabelo,
Com janelas pintadas de amarelo
E paciência que escorriam
Pela moldura e pelos enfeites do 'castelo',
Ossos branco-leite, que tremiam.
A porta tinha pregos
Que prendiam na madeira
A música captada pelos espelhos
E o encosto de uma cadeira.
Produtos químicos espalhados
Pelo chão de toda mansão
Eram os únicos tipos de alimentos encontrados
No palco feito de restos de caixão
Ao qual a casa metaforizou-se.
A rede elétrica crescia na parede,
A casa engravidava-se,
Paria e emprenhava-se sempre.
Tinha todas as portas trancadas,
Exceto duas que estavam sempre abertas.
A porta de entrada da casa
E a do quarto onde se guardavam as armas.
No andar de cima, os suicídios
Eram emoldurados e pendurados
E o sangue dos assassínios
Era usado para pintar o chão furado.
O lugar perfeito para quem sonha morrer.
Todos os cantos eram pontudos
E na escada, com apoio para a mão correr,
Havia lâminas e ferros enferrujados.
E no jardim, pessoas, "uns brincando de viver"**
E todos vivendo sem sorrir,
Nenhum tenta correr,
Dali ninguém quer fugir.
E quando o dia amanhece,
Em meio ao cheiro de formol,
Toda a casa e as pessoas desaparecem
Exceto o filho do Sol
Em sua imortal desgraça, esquece
Que o veneno só o adormece
Até ser usada a próxima clave de sol.
*Música: Quarto das Armas
Banda: Pública
**Música: Como num filme sem um fim
Banda: Pública
Outubro de 2009
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