caçador


Tropecei e desci a rua rolando. Ralei pé cabeça braço direito calcanhar direito bunda. O sangue ficou no chão e eu sabia que ele sentia o cheiro de sangue. Não ouvia, não via, sentia cheiro. Ele pulou de cima do prédio no começo da rua. Levantou a cabeça para a direita e eu consegui ver as narinas dele se contraindo e me farejando. Colocou as mãos no chão e tomou pose de animal. Gemia baixo, grunhia. A rua só tinha uma saída, um beco onde só cabia alguém que tivesse a metade do meu corpo. Eu via azul, azulado, branco e muito preto. Eu respirava quente, transpirava frio. Ele chegou até a primeira poça do meu sangue e lambeu. Eu percebi que ele gostava da caçada e queria que eu fugisse mais. Eu queria me entregar e acabar com tudo, queria ver aquele sorriso plástico teatral manchado de sangue, eu queria vê-lo rindo. Ia agüentar ele começando a me comer pelas pernas, depois os dedos das mãos, um por um, como se fossem pés de galinha. Comendo meus músculos com vontade, chupando o sangue que escorria pela parte do meu corpo que ainda estivesse inteira. Devoraria o resto da minha perna e me deixaria com a outra inteira para rastejar e deixar aquilo um pouco mais prazeroso. E eu, só com uma perna, corri pelo beco pequeno, a outra metade do corpo que me sobraria ali entre as paredes eu ofertei a ele. Ele conseguia passar com facilidade ali. Diminuía o corpo até parecer uma cobra, rastejando pela parede, como uma lagartixa. Pulava de uma parede para outra como uma aranha. Me amarrava nas teias e me via debater, eu jurava poder ouvir risadas. Ele pulou da parede, voou por cima de mim e caiu na minha frente. Fazia movimentos estranhos com a cabeça, como se não tivesse ossos para sustentá-la. Tinha roupas velhas, tiradas de grandes baús, manchadas de sangue de outro, alguém que como eu fugiu, mas se entregou rápido e que talvez tenha sobrado um pedaço, perto de onde eu estava. Azul, azulado, branco e frio. As escamas nas mãos roçavam umas nas outras e faziam um barulho estranho, ferrões em cima das sobrancelhas (não tinha olhos, mas tinha sobrancelhas), a cauda. Essas partes animais do corpo dele se mexiam. Sozinhas. E parecia que cada uma delas já havia escolhido uma parte do meu corpo para destroçar. Voava ao meu redor, expunha os dentes afiados e mergulhava em mim, cada vez levava algo mais.

Comentários

FOXX disse…
gente!
mudou tudo aqui!
preciso me acostumar.
Arsênico disse…
Gente... to chocadÖ com a sangria!!! Que medo!!! Espero que se recupere o mais rápido possível!!! Infelizmente sempre apareçe um ou outro pra nos levar mais um pedaço!!!

***

;-0
quanto novidade!

a gente dá as costas pro mundo por duas semanas e tudo muda, quando volta!

quanto a narrativa, eu só conseguia imaginar sexo. eu sei, doentio.
Unknown disse…
Por favor, urgente:
hoje todos os jornais estão divulgado MAIS UM ataque na região da Paulista, na Frei Caneca, um skinhead com soco inglês…
E estamos perdendo feio lá no site do Conselho Regional de Psicologia de Santa Catariana, a maioria na enquete é contra a PL 122/2006. Eu fico me perguntando do que essa gente tem medo. Quem puder, entra lá e vote “SIM”, por favor..
http://www.crpsc.org.b
Outra coisa, nem sei se gostam do Jabor nestas bandas, mas o que ele falou e como falou hoje, em nossa defesa, em “Covardes atacam homossexuais corajosos” merece emoção e aplausos. Ouçam no link abaixo:
http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/arnaldo-jabor/2010/12/10/COVARDES-ATACAM-NOS-HOMOSSEXUAIS-CORAJOSOS-A-POPRIA-MISERIA-SEXUAL.htm?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter
Obrigado,
Ricardo Aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br

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