"Que melodia tirará o meu amor da cama dele? Que melodia o verá nos meus braços novamente?"



(Obs.: dê play na música para ouvi-la enquanto lê o conto.)

Estamos nós, nessa pequena casa de dois andares, apertada entre outras casas de dois andares, em uma rua apertada, mas diante de um mar que dá para todos os caminhos do mundo. Estamos nós no início, no meio e no fim do mundo, cultivando carinhos diários como flores coloridas na janela do primeiro andar.
Durante as manhãs eu gosto de ver o Sol bocejar da janela enquanto eu começo a sentir seus movimentos desde seus sonhos. Sinto seu corpo todo tornando à vida do ensaio que é o sono. Você me abraça e com a cabeça estrategicamente colocada perto de meus ouvidos me diz com uma voz gasta de mundo onírico que o acordeão é a nossa trilha perfeita. Eu acho graça em como sua mente renascida não sabe bem do que está falando. Nossa música perfeita, querido, são nossos olhos, nossos pelos e sentidos que descem em cascata por esta janela e viram partitura para aquele acordeão. Você sorri do meu romantismo indispensável como o Sol e o mar da manhã.
Você gosta de gastar os dias na janela, e eu vendo como tudo aquilo é horrível em comparação à tua pele dita pelo acordeão e a tua pele, que eu sinto. Não há possibilidades..., você diz, O que?, Não há possibilidades... uma loucura será sempre um amor misturado com mar e música de acordeão. Querido, você me chama, eu sinto falta de suas palavras e a forma como elas me desenham para você. Você é insubstituível, eu digo isso vendo você banhado de Sol e o vento do mar balançando seus lindos cabelos soltos, Por isso, eu suspiro, dei minhas palavras para aquele mar, talvez estejam na praia, no meio das conchas, aguardando para serem apanhadas por mãos de crianças. Vamos buscá-las, você insiste e justo nesse momento o acordeão soa triste. Eu me sinto vazio e tenho a sensação de perder você.
É como a sensação de se perder em frente a um espelho. Existe a moldura limitando seu espaço, mas existe a imagem infinita de você diante dele. Você está na minha frente, beijando meus pés e eu sinto que te perdi para o mar e o mundo. Como se sua pele branca fosse manchada de um pingo marrom de tempo, como se por sua voz chorosa eu já só sentisse um fantasma encapuzado, se escondendo com medo de mim.
Eu vim a tão longe para chorar por te ter e você me abraça desesperado. Como você pode ser tão belo sendo só você? Como você pode ser a pessoa mais doce do mundo e desse mar que vai ao mundo só por ser você? Por que insiste em apanhar palavras na praia? Olhe-se no espelho e ame a si. Toda vez que me vejo no espelho eu só choro por não ver o fundo de mim. Querido, você me chama choroso a atenção depois de algum tempo, quebrei todos os espelhos, eu me fiz em mil pedaços agora no mar, eu sou como você agora, um corpo sem fundo, somos incompletos os dois, mas somos os dois juntos, e o acordeão soa ainda mais belo dessa forma perdida sem causa, foi sempre assim que ouviu isso? Dessa forma eu sei que posso te amar bem mais, sem qualquer barreira invisível que seja entre você e eu, e isso tudo.

Comentários

FOXX disse…
vc bem sabe q não gosto de textos romanticos, só qndo vc os escreve...
é de uma perfeição...

ao mesmo tempo que é redondo, perfeito, sem arestas e musical... seu texto é visceral.

vc anda se confirmando como o melhor escritor de blog que tenho lido.
lamentaria q vc nao escreve com tanta frequencia, mas é melhor q vc escreva ao seu tempo, mas que nos traga toda essa perfeição, misturada com essa poesia.

logo eu que achava que poesia nenhuma poderia ser perfeita.

da canção ao texto e da forma como eles se completam.

obrigado por ter escrito isso.
vim ler de novo porque eu me apaixonei por esse texto e por essa trilha sonora.

se eu ler de novo, essa paixão se transforma em inveja, juro.
Unknown disse…
Seus textos relatam sua alma, a intensidade contida em cada linha é de extrema perfeição. E a música, mui bela.
Muito bom.
Anônimo disse…
Eu amo essa música *-*

Caiu como uma luva para o texto...

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