Sem título [em homenagem ao silêncio]

Eu descobri que meu amor pleno é o da palavra. Por isso vivi de buscar garotos na internet para amá-los através de suas palavras. Mas eu não renegava a porção de imagem que eles me davam às vezes. Quase sempre não passava de um mês, o assunto acabava, acabavam-se as palavras e meu amor ia também. Eu amo as palavras. Mas o destino é feito de coisas não previsíveis, ao contrário do meu gosto pelo controle do mundo, eu não controlo o destino, eu não controlei o meu e nem o dele. A primeira vez que o senti (ele que me achou) foi através de algumas palavras, não vi rosto, não vi silhueta borrada por câmera online, eu só vi algumas frases e eu queria ver mais. Começamos a conversar online e não foi diferente, acabou o assunto, acabaram as palavras e acabou o amor. Passei meses novamente, amando algumas palavras alheias, mas tudo acabava sempre. Eu não controlava nada. Eu era como um garanhão amante de outra porção humana, abstrata, mas bem concreta em minha frente, na tela. Eu ainda tinha o contato dele, raramente nos falávamos e esses momentos sempre eram especiais. A doçura de uma palavra tão bela ocasionalmente me fez insistir e depois de algum tempo eu o sentia em palavras todo dia. Sentia-o me abraçando, me beijando, sentia seu carinho, seu calor. Mas ele quis passar da palavra. Para ele a porção física era importante, a biológica. Para mim passou a ser, mas eu tive medo que tudo isso estragasse a mágica de suas palavras. Mas ficamos juntos, de frente um para o outro e ele não me disse absolutamente nada. Sempre me falou que era tímido e comigo em especial não teria coragem de falar. E ele não falava, era importante para ele o contato. Se eu disser que me incomodou, será mentira. Não me incomodou. Mas eu sentia falta de suas palavras. Ocasionalmente, apenas ocasionalmente, ele me dava algumas. E era por esses momentos que eu passava meses esperando. O momento em que ele alimentaria meu amor com a própria palavra. Não que eu não o amasse por ele mesmo. Sim, eu amava. E era justamente por isso que eu passava meses esperando por uma palavra que fosse. Ele entendeu perfeitamente do que eu precisava. Era de um silêncio capaz de me fazer digerir e processar meu sentimento. Eu passei amar o seu silêncio, além de sua palavra e sua figura. O silêncio do abraço, o silêncio quente do beijo, da mão na minha mão, da cabeça no meu colo. E a palavra pela qual eu passava meses esperando, “eu-te-amo”. Não poderia não amar esse silêncio.

Dedicado à você.

Comentários

FOXX disse…
uia, dedicado a quem?
ah, que coisa linda.

vc pode dizer que um texto seu já fez alguém chorar, já fez alguém se arrepiar e pensar na própria vida.

lindo, Artur.

quanto ao último texto, confesso que fiquei meio confuso do meio pro final e nem lembro por que, mas achei que você tb estava confuso. achei tb q td aquela confusão era providencial, necessária. talvez assim vc pudesse expressar o sangue pulsando dentro das suas palavras.
Arsênico disse…
[Chorando]

5 min. depois:

Fiquei emocionado com a declaração... quem não gostaria de recebê-la?

Desejo que vocês sejam felizes! com ou sem palavras!!!

E 2011 começou com tudo héim?!

***

BayjÖs!

;-D
Well Bernard disse…
É que eu acho que todo texto de um blogueiro que eu não sou acostumado a ler falar da vida do próprio blogueiro. Depois perderia a graça sensualizar para você. kkk

O Arsenico é tão sensível, adoro menines sensíveis como ele.
Unknown disse…
Olá, encontrei o seu blog na comunidade dos blogueiros literários. E te digo uma coisa: Precisava ler algo assim hoje. Muito bom, Arthur. Seguindo.

http://ariannecarla.blogspot.com
Rafael Pinheiro disse…
passei um bom tempo lendo seu blog. um amor, como vc. bjs.
rafa.
Anônimo disse…
silêncios e palavras: a melhor receita para calafrios da paixão!

te entendo perfeitamente.

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