APOESIA E A REDE, OU A WEBPOESIA (SE VOCÊ TEM PACIÊNCIA PARA TANTOS NOVOS CONCEITOS ARBITRÁRIOS)


A literatura morreu depois do modernismo. Antes dele ela já estava em estado de transição, como vários autores fazem questão de demonstrar (Mallarmé é um deles). Mas ela não se extinguiu. O que temos hoje nas mãos, às vezes nos livros, é o cadáver da literatura que resiste ficar corado mesmo sem precisar de gelo.
            A literatura do nosso século encontrou força na cultura pop, assim como a literatura do fim do século XX encontrou bases no cinema e na fotografia.
            Mas parece que uma modalidade de texto literário não tem visibilidade fora dos círculos da alta elite consumidora de literatura: a poesia. De fato, o número de poetas famosos recentemente só tem diminuído, ao passo que os ficcionistas e cronistas só aumentam.
            A poesia não está nas editoras, nos livros, nas livrarias, porque não é aí que ela precisa estar. Aí ela não terá quase força. A poesia precisa estar onde a revolução se encontra, e em nosso século a revolução está na web. Nem parece que está, mas ainda é lá que passamos grande parte de nosso tempo, é lá que construímos grande parte dos nossos conceitos e adquirimos conhecimento de forma rápida, pungente e transitória.
            A poesia no nosso século é isso. Recentemente impregnada com os temas da fragmentação natural e filial do ser humano; dos espaços vazios e concêntricos das cidades localizados no meio das pessoas que correm para trabalhar, que roubam bolsas e celulares; dos grafitis simulando um ser vivo disforme, como muitos de nós somos.
            Assim como acreditaram que com a internet escreveríamos cada vez menos, o advento da comunicação via rede não extinguiu a poesia. Pelo contrário, deu a ela um campo frio para esquentar, um campo cheio de mato para capinar, uma pele lisinha e coberta de tecidos de informações para atrapalhar e mazelar.
            A poesia na rede sustenta um medo que muitos dos intectualoides da literatura tinham medo: deixar de falar de sentimentos estáveis e falsos para tratar do vazio da existência humana entre as máquinas, as paredes, o concreto e o trânsito; de ser apoesia. Poesia ainda é revolução. Ainda está viva, só que morando embaixo de um viaduto diferente.

(A.D.S.)

Comentários

FOXX disse…
ADS?

bela crônica
(estou sendo irônico, não no ponto da bela, mas da crônica ao vc falar de poesia... ah vc me entendeu)
te contar que eu tenho inveja de você e desse texto.

eu só queria que de vez em quando me pegasse pensando coisas desse tipo, refletindo sobre literatura.

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