Cartas de Adão (2)
Natal, 17 de Abril de 2012
Meu Caminho Perdido,
Eu esperei tanto por sua voz, ao menos te tive em
papel. Em tinta fresca. Eu fingi perder sua carta por alguns dias. Ela estava
sempre em cima da mesa, mas eu olhava mais alto, toda vez que passava por ela,
só para ter a desculpa de que não lembrava e, assim, poderia não te escrever de
imediato (e essa ideia me pareceu tão gasta, já tão usada). Mas durante esses
dias, eu te escrevi em pensamento umas 8 cartas distintas. E, confesso, estou
começando a gostar desse exercício, apesar desse meu problema que me causa
dores nas mãos. Mas eu as deixaria sangrar para poder te escrever de volta.
Sempre. Lembra? Plantaria mil mortes perfeitas por você.
Te enviarei as cartas para o endereço que me
pediu. Nem irei questionar. Sabine está por perto? Senti a alma dela nesse
nome. E no seu, também. Mando um beijo, com muito carinho, sempre.
Antes de começar a escrever, confesso, perdi 7
horas pensando no nosso suicídio e, Meu Escuro Infinito, veja que lindo: água!
Como a minha Ofélia. Quanta paz existe na água! Virgínia que o diga. Não
precisa ser nada original. Basta um rio (ou mar, já que temos uns bons
quilômetros. Minha amada Zila que me guarde!), algumas pedras e bolsos fundos.
O resto é você segurar minha mão e se entregar à água, deixando ela provar da
sua desorientação. Eu deitarei no fundo, eu vejo, e te enxergarei bonito
flutuando mais alto, submerso também. Mas feliz. Me sorrindo por entre os fios
de sangue que podem sair dos meus olhos. A pouca luz do Sol, já de manhã
cedinho, fazendo de você um lindo anjo morto. Adormecidos submersos. Você em
toda beleza e eu já me desmanchando. Tenho essa impressão, de que sua matéria é
eterna. Que você permanecerá nas ondas, dançando, enquanto eu me farei água e
onda, para te levar no movimento. Tão simples, apenas me agarre a mão, e só se
deixe ir (e só me deixe ir) se for junto comigo (se for junto contigo).
Sei da sua força. Já sinto você me destruindo.
Mas, Meu Pedaço de Sombra, eu aceito ser desconstruído por você. Acredite, eu
acho que isso é o reinvento do amor. Você não acha? Somos mais evoluídos em
nosso sentido.
Seu Anjo Morto.
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