pele
In the city, you find pain
And the people you see there
That remind you of your role
Let me go
(Skin – Zola Jesus)
Não
tinha como contar o valor do passado, no canto escuro daquela sala. Estavam os
dois calados, segurando as próprias mãos e sonhando com o calor que havia
debaixo da pele um do outro. Parecia errado, mas o amor que não viesse do
sofrimento e da mutilação não funcionaria naquela casa. Tinha uma luz, ou algo
assim, que entrava pela janela entreaberta. Fazia um círculo deformado no chão.
Como se sentiam. Estavam ali para não fazer nada. Tinham vindo para o desejo e
apenas. Se existisse outra coisa seria uma adaga, seria sangue, seria uma
língua morta e um corpo perdendo o calor com outro dentro. A chance era com a
luz, enquanto durasse. Depois que se fosse não haveria qualquer palavra ou
frase cansada da vida que desse jeito no futuro. E eu estaria errado se
dissesse que pensavam. Mas se olhavam com ainda o desejo que deixaram entrar. A
luz foi se perdendo, mas sem se espalhar, se tornando cada vez mais
concentrada. Não num centro, também. No desejo. Era um grito de desespero,
esperando pelas mãos rodando, o corpo se contorcendo e uma coisa dominando,
falando com outra língua, amando com outro corpo. Alguma coisa que entendesse o
mal deles dois. Alguma coisa que os amasse como eles eram capazes de se amar:
com a morte.
Comentários
nem esse amor eu poderia ter né?
não sei se era a intenção, mas senti uma tristeza... ou então era medo de ter essa tristeza.
sei lá, me desconsertou.