Antes do baile verde, de Lygia Fagundes Telles

Eu nunca havia lido um livro completo da Lygia, apenas contos isolados. Talvez por isso eu nunca tenha percebido o quanto ela é uma narradora incrível.

A variedade de temas que ela abarca nesse livro já é, por si só, fenomenal. Quando você percebe, então, que nenhum desses temas foi tratado de forma superficial tudo fica ainda mais fantástico. Se existe uma coisa simples nesse livro, são apenas algumas ações narradas (vários contos são conversas cotidianas entre personagens em um quarto), mas a forma de narrá-las mostra um domínio certamente grande da escrita.

É incrível a capacidade que a autora demonstra de ajustar o ponto de vista, o foco narrativo. As histórias nem parecem escritas pela mesma pessoa (levando em consideração que todo autor tem um estilo e uma forma muito particular de escrever), já que os narradores são tão bem construídos que a voz narrativa não se confunde em mais de um conto (parece bobagem, mas conseguir essa variação não é fácil).

Além disso,  as tramas dos contos são muito interessantes tanto quanto variadas: uma mulher e sua empregada se preparando para um baile de carnaval, uma tia e uma sobrinha surpreendidas pelo suicídio de um familiar, uma mulher que conta como perdeu toda sua família enquanto leva seu último filho quase morto ao médico, um homem que retorna ao apartamento antigo do filho na esperança de reviver alguma lembrança e etc.

Os contos são curtos, cheios de fôlego mesmo quando não há muita ação na trama e, alguns deles, muito surpreendentes.

Lygia Fagundes Telles foi a autora brasileira indicada ao prêmio Nobel de literatura. E eu ficaria mais animado com uma possível vitória se a Alice Munro, mulher, canadense e contista não tivesse vencido recentemente. O prêmio não costuma contemplar autores com características semelhantes em um curto espaço de tempo. Espero estar muito enganado. De qualquer forma, Lygia é uma forte concorrente, não deixando nada a desejar quando “comparada” aos demais concorrentes.

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