[RESENHA] "É agora como nunca: antologia incompleta da poesia contemporânea brasileira" organizada por Adriana Calcanhotto

Acredito que a primeira coisa a discutir nesta resenha é porquê chamar Adriana Calcanhotto para organizar uma antologia de poesia. A resposta, na verdade, é bem fácil. Acredito que poucas pessoas no Brasil tiveram tanto contato com a poesia, seja escrevendo, lendo, cantando ou ouvindo da boca dos próprios poetas, dos quais ela esteve tão próxima, quanto Adriana. Seu conhecimento de poesia é tão respeitado que recentemente ela foi convidada para ministrar um curso numa universidade em Portugal. Adriana não só conhece a poesia, como tem o conhecimento suficiente para falar sobre ela.

Tendo discutido isso, passamos para o próximo ponto: como criar uma antologia de algo que está acontecendo? Adriana sabe disso e deixa claro no início do livro que enquanto ele está sendo organizado, impresso e lido, vários outros poetas estão surgindo, talvez muitos deles merecedores de estar naquela antologia, mas ainda restrito aos meios marginais da nossa atualidade, como os blogs e os fanzines. Justamente por isso a antologia é chamada de incompleta, pois o contemporâneo é quase impossível de se ver em seu próprio momento. Isso nos leva ao próximo ponto: variedade.

Como uma antologia que tem por intenção mostrar o panorama da produção poética atual, fiquei um pouco decepcionado por serem contemplados apenas poetas já publicados em livros, independentemente da editora. A poesia contemporânea vive na Internet. É lá que ela encontra a abertura para se jogar no mundo. Apesar disso, entendo o quão difícil seria a tarefa de incluir na antologia poetas que publicam na Internet, seja lá qual o suporte. Uma falta perdoável.

Vamos falar então agora das próprias poesias. A nossa produção atual é muito vasta e não compõe um grupo de características específicas possíveis de definir. A antologia é composta tanto por poemas que rompem uma certa expectativa do que seria um poema, quanto por outros que suprem essa necessidade de um leitor mais acostumado com a poesia anterior às vanguardas.

Mas algo perceptível é a busca por um olhar que abarque nosso tempo, nossa vida, nossos amores, nossas obrigações, nossa sociedade. A maioria, se não forem todos, os poemas buscam uma determinada identificação com o presente, que, como já falei lá em cima, é muito difícil de construir. O tempo só é entendido por completo quando se torna passado. Mas, talvez por se tratar de poesia e arte, os poemas da antologia conseguem de alguma forma pelo menos criar as imagens do nosso momento, nos fazendo reconhecer neles uma espécie de similaridade com a poesia que existe fora dos textos, no mundo, na parada de ônibus, no supermercado, nas filas de banco, no tédio do amor nos tempos da classificação digital.

No fim, a antologia cumpre bem seu papel, graças ao olhar apurado de Adriana e a seriedade nas edições da Companhia das Letras, mas, como já dito, peca em dar visibilidade apenas àqueles poetas já publicados, muitos saídos dos blogs e de outros lugares da Internet.

Espero muito que a antologia seja atualizada com o passar dos tempos para incluir os novos poetas que surgem todos os dias. Espero que ela não pare apenas nessa edição, que seja um livro possível de se refazer, para manter acesa a felicidade de perceber que a poesia não morreu, apenas mudou de endereço.

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